top of page

A cultura da favela que só serve fora dela

  • Foto do escritor: Rennan Leta
    Rennan Leta
  • 7 de mar. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de mar. de 2019



Baile da Gaiola, no Complexo da Penha / Facebook DJ Rennan da Penha

"A partir de agora considero tudo Blues O Samba é Blues, o Rock é Blues, o Jazz é Blues O Funk é Blues, o Soul é Blues (...) Tudo que quando era preto, era do demônio E depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de Blues"

O trecho da música Bluesman, do rapper Baco Exu do Blues, retrata o ciclo cultural histórico entre a favela e a burguesia: diversos ritmos musicais periféricos sofreram uma grande rejeição até serem apropriados por quem domina o poder financeiro.

Hoje é comum vermos shows de pagode e rodas de samba em todos os bairros, mas isso não era rotina no asfalto há uns anos atrás. As “bolas da vez” que trilham esse crescimento são o funk e o rap. Desde o início dos anos 2000 vemos estes ritmos chegando em lugares que muitos diziam que não chegaria. Temos como exemplos Anitta, Ludmilla, Emicida e muitos outros que fazem, hoje, turnês internacionais e lançam músicas em outro idioma; além do Espaço Favela no Rock in Rio, um dos maiores eventos musicais do mundo.

O baile no asfalto

Vemos cada vez mais blocos de carnaval sem as tradicionais marchinhas e com DJ's de funk; além de eventos com o nome de algum baile em grandes locais, como no Maracanã.

A apropriação cultural se torna mais uma ferramenta da segregação de classe. Já que a maioria destes eventos têm o preço do ingresso bem alto, impedindo que a favela curta aquilo que ela mesma criou.

Enquanto o baile na favela

“Baile da Penha sempre lotado, todo sabadão eu tenho que partir…” A letra do Mc Kevin O Chris se popularizou não só pelo Complexo da Penha, mas por toda a cidade. No entanto não é assim que tem acontecido, os bailes na favela, onde tudo começou, são cada vez menos frequentes e a forma que o Estado tenta lidar com a situação é fazendo operações, deixando inocentes feridos no dia de baile.

Indo na contramão do movimento cultural dentro das favelas, o governador Wilson Witzel já se posicionou contra os bailes e chegou a cogitar a exoneração dos comandantes dos Batalhões de Polícia Militar que não os impedissem de acontecer. Ou seja: a burguesia gosta da nossa cultura e lazer, mas não permite que isso exista no nosso próprio ambiente.

Afinal, esse crescimento faz bem ou mal para a favela?

É verdade que, conforme esses ritmos crescem e se expandem por novas áreas, o espaço para novos talentos surge e mais gente pode alcançar uma carreira de sucesso. Porém, se tratando de fonte de cultura e lazer para a grande parte da favela, essa apropriação se torna prejudicial.

A história mostra que isso é uma fase natural, como foi com o samba e o pagode. Ambos conseguiram superar essa apropriação, se manter com as raízes na favela e ocupar lugares importantes, como a TV e rádio. Que assim se repita e a cultura da favela seja apreciada, não apropriada.

Kommentare


Sobre o escritor

Nascido em 10 de junho de 1995 no Rio de Janeiro.

Poeta, escritor, slammer e estudante de jornalismo. Autor do livro Palavras do Mundo (2017), organizador do Sarau do Topo e criador do projeto social Favela em Desenvolvimento - ambos na comunidade Mata Machado, onde mora.

Colunista no Voz das Comunidades desde dezembro de 2017, passagem pelo Jornal da Barra e Boletim Comunitário (UCAM).

Bicampeão do Slam Favela, campeão do Slam Trindade, do Slam Vila Isabel e do Haicai Combat.

  • White Facebook Icon
  • White Twitter Icon
  • White Instagram Icon
bottom of page